quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Rabo de cavalo

No meio da tarde, trabalhando, olhei pela janela e na grama verdinha, aliás uma das poucas coisas coloridas nesse cenário, um cavalo pastando... O tempo parou pra mim, na verdade não reparei no trânsito, nem nas sinalizações típicas de tempos eleitorais, muito menos nas crianças pedindo dinheiro no sinal e menos ainda nas pessoas caminhando, situação costumeira do local. Por poucos segundos queria trocar de lugar com aquele animal, não sei qual a percepção dele em relação ao ambiente, mas me pareceu concentrado na tarefa de pastar, pastar como se nada acontecesse ao seu redor, aquele momento era só dele, satisfazendo uma necessidade primária, apenas isso. Fiquei refletindo sobre o almoçar correndo, o almoçar com o pensamento em todas as tarefas que me esperam, sobre as coisas que não estão certas no mundo, no meu trabalho, na minha vida. Passei tantos anos estudando, sempre com a preocupação em ser uma pessoa bem informada e crítica sobre esse mundo, pra que? Perdi o direito de almoçar, tomar banho, dormir após o almoço, jogar paciência, assistir um DVD com a mente limpa, sem preocupações, sem grilos, sem pensar em nada além do que está na minha frente. E o cavalo pastava e balançava o rabo. Talvez ele soubesse que eu estava naquela janela no terceiro andar, estava me provocando, balançava o rabo pra mim.