sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Brechó - autoria anônima


Recebi este texto de uma amiga, que infelizmente não posso citar o nome aqui. Mas é boa essa guria!


Dia desses resolvi fazer uma faxina na minha mente e no meu coração... Exercício difícil, afinal, não é sempre que podemos entrar no quarto escuro de nossos sentimentos mais íntimos e ali remexer todas as coisas de nossa vida. E o pior: quanto mais velhos ficamos, mais cacarecos temos.
Guardamos aquelas mágoas bem lá no fundo da peça, achando que nunca mais a veremos; temos alguns amores, ou um único amor que guardamos com todo carinho dentro do baú mais delicado de nosso coração... pouco mexemos nele, mas sabemos que está ali. Muitas alegrias, momentos para recordar, banhos de rio, chuva, idas à praia, ao shopping, noitadas divertidas, risadas de crianças, enfim, muitos momentos muito bons, muito bem guardadinhos.
Também reservamos um espaço para as tristezas, o amigo perdido, o parente que se foi, a prova que não passamos, o emprego que não conseguimos, muitas coisas da vida que não conquistamos. Também, bem guardados e arrumados. Nestes não mexemos muito mesmo, pois a poeira nos entope o nariz e pode fazer com que nossos olhos se encham d’água, muito tempo ali guardados.
Mas tem um espaço que sem perceber, mexemos constantemente, quase que diariamente, mas muitos de nós nunca se dá conta. Algo que nos foi dado sabe Deus por quem, talvez por ele mesmo, mas alguns de nós ainda mantêm este espaço, mesmo estando no porão de nosso coração, sempre limpo e arrumado.
É o espaço de nossa consciência. Aquilo tudo que fazemos, todos os dias, mas não o espaço daquilo que erramos, pois este fica junto das tristezas, o espaço da consciência tranqüila, aquela que nos permite dormir com serenidade todas as noites.
Consciência tranqüila de que fomos bons, que demos o melhor de nós mesmos, apesar das adversidades; consciência tranqüila de que amamos com todas as nossas forças e, por mais que estivesse difícil, seguimos com nosso sentimento limpo e fiel; consciência tranqüila da nossa fidelidade com tudo e com todos, desde o porteiro do prédio até o amor de nossa vida (mesmo quando depois descobrimos que este não era ainda o amor de nossas vidas); consciência tranqüila de que é pelo trabalho que alcançamos tudo que precisamos, mas que somente ele não nos dá a total felicidade, precisamos de nossa família, amigos, amores...; consciência tranqüila quanto ao nosso esforço para sermos sempre melhores, para sempre estarmos de bem com a vida, apesar de muitas vezes querermos sumir do mapa;
E junto da consciência tranqüila, tem uma gaveta da paz de espírito. Esta, não se compra, não se vende, não se empresta. Quando nossa consciência está limpa, esta gaveta se enche. É como mágica, mas se fazemos algo de errado, esta gaveta se esvazia por completo. E cada vez que fazemos algo bom, não recebemos tudo de volta, ela vai se enchendo aos poucos, quanto melhor nós formos.
Enfim... depois de toda limpeza, descobri que tinha muito mais o que agradecer do que o que reclamar. Não é fácil, cada dia somos testados, mas de uma coisa eu tenho certeza: consciência tranqüila e paz de espírito não tem pra vender por aí... e apesar de todas as coisas boas, não há brechó que venda quinquilharias que possam encher estas gavetas.

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